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A revolução das cidades inteligentes: dados e tecnologia ao serviço da população

Humberto Piccinini - Program Manager, Nova SBE Innovation Ecosystem28/10/2024

Para as smart cities atingirem o seu máximo potencial – o de melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes e promover a redução de emissões – será preciso democratizar a adoção das tecnologias empregadas.

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As cidades acolhem hoje, segundo o World Bank, cerca de 55% da população mundial. A rápida aceleração do crescimento das áreas urbanas, desde a Revolução Industrial aos mais recentes fluxos migratórios, impõe enormes pressões sobre os meios naturais e as infraestruturas que permitem a estas populações viver nas cidades, sem mencionar as tensões sociais oriundas destas interações. Neste contexto complexo, a utilização de dados e tecnologias pode melhorar a qualidade de vida nas cidades e torná-las mais responsivas e adaptáveis às constantes mudanças. As smart cities – cidades inteligentes – utilizam uma miríade de dados, provenientes de sensores e equipamentos eletrónicos, para apoiar a tomada de decisão pelo poder público e pela população.

A iniciativa Europeia da criação e promoção de uma New European Bauhaus – assente na ideia da criação de um futuro europeu mais belo para os olhos, a mente e a alma – pressupõe novas formas de viver que vão além de mera funcionalidade, mas que promovem uma maior harmonia com a natureza e um diálogo entre diferentes culturas, géneros e faixas etárias. À iniciativa da criação da New European Bauhaus acresce o projeto European Green Deal, cujo objetivo é promover a Europa enquanto o primeiro continente carbon neutral até 2050.

Já na década de 1970 as primeiras iniciativas orientadas para a criação de cidades mais inteligentes enfrentaram problemas como a falta de relevância e valor para os usuários. Hoje, com sistemas de recolha e análise de dados mais estruturados e respetivos enquadramentos legais, o ecossistema está pronto para atingir o seu máximo potencial.

Alguns exemplos: a utilização de dados em tempo real de trânsito e localização de transportes públicos pode melhorar a experiência dos seus utilizadores – com maior previsibilidade de tempos de chegada e partida e duração das viagens -, promovendo a sua utilização, versus a utilização de carros. Na recolha de lixo, podem identificar o nível dos contentores e acionar equipas para esvaziá-los sempre que necessário, melhorando as condições de limpeza de bairros. Os postes de iluminação inteligentes conseguem identificar não só níveis de iluminação natural e adaptar a intensidade de forma automática, mas também padrões de utilização, ligando-os apenas quando houver pedestres, níveis de poluição ou ruído.

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Ao mesmo tempo, plataformas colaborativas permitem que os moradores partilhem sugestões de melhoria, reportem situações que exijam atenção especial do poder público ou que tenham uma voz ativa - ainda que digital - nas tomadas de decisão. Estas iniciativas, que visam tornar as cidades mais democráticas e darem algum senso de comunidade são vitais – mesmo que careçam de ferramentas de supervisão para garantir a sua utilização para o bem de todos.

Os avanços tecnológicos nos últimos anos, com a implementação de redes 5G, o boom de plataformas de inteligência artificial e a expansão de edge computing, prometem alavancar as smart cities para outro patamar. Hoje, não só é possível captar mais dados e com maior precisão, mas também – e talvez mais importante – é possível analisá-los com maior rapidez, permitindo uma melhor e mais precisa tomada de decisão.

Para as smart cities atingirem o seu máximo potencial – o de melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes e promover a redução de emissões – será preciso democratizar a adoção das tecnologias empregadas. A experiência europeia – bem como a norte-americana e a de alguns países asiáticos – deve servir de exemplo e catalisador para outras regiões menos favorecidas, mas que ainda assim podem beneficiar enormemente da utilização de dados para a tomada de decisão nas cidades. Em Singapura, por exemplo a gestão das águas – para consumo, pluvial e dos esgotos - é feita em tempo real, o que permite otimizar a operação e reduzir desperdícios. Já Amsterdão criou uma plataforma on-line para a partilha de dados e de iniciativas por qualquer cidadão interessado em promover discussões ou melhorias concretas na cidade.

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É, portanto, imprescindível a criação de ecossistemas abertos e colaborativos de troca de dados, tornando-os acessíveis e inteligíveis pelas empresas e pelas populações. Sem a criação de processos legais e burocráticos ágeis, que permitam a partilha de informações, e vontade política, os dados coletados ficam sem valor.

Estas ideias são o pano de fundo para o programa Future Cities, Future Communities Innovation Accelerator, desenvolvido pelo Nova SBE Innovation Ecosystem, e que procurou encontrar soluções inovadoras e alinhadas com a visão de futuro para a Europa em três grandes temáticas: Neutralidade Carbónica & Zet Zero; Vida Urbana, Proximidade e Serviços Comunitários; e Construção, Infraestrutura & Arquitetura. As soluções – oriundas de start-ups, PMEs, alunos, empreendedores early-stage, académicos, e sociedade civil – mostram a relevância do tema e o potencial que o setor público e empresas privadas têm para explorar e implementar.

A experiência do programa mostra que há ainda muito por explorar nas áreas de construção, infraestrutura e arquitetura - setores ainda muito tradicionais e com alguma resistência na adoção de tecnologias e na utilização de dados para a tomada de decisão. Soluções ligadas a Neutralidade Carbónica & Net Zero mostram-se focadas na captura e análise de dados, principalmente para relatórios ligados a ESG – havendo aqui uma tendência para soluções do tipo dashboard, com informações e dados sobre a operação das empresas. Por último, e talvez por ser o tema mais abrangente, quando nos focamos na Vida Urbana, Proximidade e Serviços Comunitários, vemos soluções tão diversas quanto uma plataforma para micro mobilidade; outra de gameficação da recolha de lixo; ou ainda uma que cria comunidades locais para trabalharem em problemas reais dos bairros.

Se as tendências atuais continuarem, em 2050, 70% da população mundial estará a viver em cidades. Se queremos garantir que estas pessoas possam viver com qualidade e conforto, ao mesmo tempo que atingimos as metas das emissões, será preciso que as cidades adotem tecnologias que deem suporte a estas ambições.

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