Globalmente, a ME tem testemunhado um crescimento notável. Em 2022, 14% dos novos veículos foram elétricos, um aumento significativo face aos 9% registados em 2021. No entanto, este é ainda um segmento centralizado nos três principais mercados - China, Europa e Estados Unidos – que representam cerca de 95% das vendas globais de VE em 20223.
Embora a China seja o maior mercado de VE em termos absolutos, a Europa está na 2ª posição, dominando outras métricas, especialmente através do contributo dos países nórdicos. O país referência a nível mundial é a Noruega em que os VEs alcançaram um market share de 79%4 em 2022, sendo o Tesla Model Y o veículo mais vendido na história do país, superando o Volkswagen Beetle de 1969 em vendas anuais5.
Na União Europeia, 75% das vendas de VE estão concentradas em quatro países com PIB per capita acima de 45 mil euros (Suécia, Dinamarca, Finlândia e Países Baixos). Os restantes 25% estão distribuídos pelos outros 23 Estados Membros6. O relatório da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis demonstra que, no continente europeu, a adoção de VE está diretamente ligada ao PIB per capita, apontando a acessibilidade económica como problema-chave. E os consumidores parecem concordar: 50% apontam o custo total de propriedade como uma das principais apreensões para adquirir um VE7.
As infraestruturas públicas e privadas de carregamento têm-se demonstrado como fator crucial para impulsionar a adoção de VE, sendo a principal preocupação do consumidor8. Para além da falta de infraestruturas, outra inquietação prende-se com a sua autonomia e capacidade de satisfazer as necessidades do utilizador. De acordo com o estudo da EY9, 33% dos compradores de novos automóveis apontam a distância que um VE pode percorrer com a bateria totalmente carregada como a segunda maior preocupação, equiparada com a falta de carregadores (34%).
Na Noruega, a instalação de carregadores foi também priorizada e alavancada monetariamente desde cedo. A presença de dezenas de empresas dedicadas à instalação e operação de pontos de carregamento é uma demonstração contundente de que a concorrência fomenta a inovação e agilização10.
Na Holanda, evidenciam-se também boas práticas no âmbito da infraestrutura, com 29% dos pontos de carregamento a nível europeu, apesar de ser um país geograficamente pequeno relativamente aos países acima mencionados, ganhando o título de nação com mais carregadores. Este ano já ultrapassou o marco de 500 mil11, alicerçando o objetivo de atingir 1,8 milhões de postos públicos, semipúblicos e privados até 2030. As medidas implementadas incluem, por exemplo, que se os residentes de um município precisarem de um ponto de carregamento, a municipalidade fornece um carregador público gratuitamente. Há também benefícios fiscais para empresas através de um sistema que proporciona deduções adicionais no imposto de renda corporativo e empresarial.
Outros países parecem seguir as mesmas pegadas, reconhecendo a importância de estimular a expansão contínua da rede de carregamento o mais rapidamente possível. Na Bélgica, foram anunciados incentivos temporários adicionais até ao próximo ano. A ênfase recai na premência da implementação, pois quanto mais cedo a instalação for executada, maior é o incentivo12. Empresas que instalem estações de carregamento de acesso público até setembro de 2024 beneficiam de uma dedução do investimento no cálculo do imposto de 150% (até este ano, a dedução era de 200%). Particulares podem usufruir de uma redução no imposto de renda pessoal de 35% se instalarem carregadores até ao fim do ano, ou de 15% caso o façam até setembro de 2024. Contudo, há condições para ter acesso a estes benefícios: o ponto de carregamento deve ser inteligente, alimentado por “energia verde” e deve ser um profissional qualificado a instalá-lo. No Reino Unido, para além de se subsidiarem os pontos de carregamento residenciais para proprietários ou arrendatários, também se aplica uma taxa reduzida de IVA, fixada em 5%, sobre a eletricidade doméstica, em vez da taxa de 20%13.
Em Portugal, a distância média diária no percurso casa-trabalho é de 50 km. Examinando o perfil do condutor português traçado pelo Automóvel Club de Portugal, constata-se que este conduz 50 a 200 km por semana e usa o carro diariamente14. Em 2021, a autonomia média para um VE já era de 349 km15, viabilizando a utilização sem receio e desmistificando esta premissa – isto, desde que a infraestrutura de carregamento esteja garantida, seja em lugares de acesso público, na residência ou no trabalho.
O País tem vindo a apostar na ME desde 2010, iniciando-se com a publicação do Decreto-Lei nº 39/201016 que regula a organização, o acesso e o exercício das atividades de ME, bem como os sistemas de incentivo à utilização de VE. Procedeu, ainda, ao estabelecimento de uma rede piloto de carregamento para a ME, levada a cabo pela MOBI.E17 uma empresa pública que atua, desde 2015, como Entidade Gestora da Rede de Mobilidade Elétrica (EGME), assumindo a responsabilidade de gestão e monitorização da rede de postos de carregamento elétricos, designadamente em termos de fluxos energéticos, de informação e financeiros.
São diversos os estímulos para a adoção da ME em Portugal, que complementam as vantagens inerentes ambientais ou tecnológicas destes veículos. Essas vantagens incluem a crescente oferta de modelos de VE com elevado desempenho, equipados com baterias robustas proporcionando maior autonomia e conforto. A par destas, há outros estímulos para a adoção da ME, desde incentivos financeiros para a aquisição de VE, como seja o programa “Incentivo pela Introdução no Consumo de Veículos de Emissões Nulas”18, lançado anualmente pelo Governo e gerido pelo Fundo Ambiental; maiores acessibilidades, nomeadamente no acesso a lugares de estacionamento dedicado, quer para parqueamento, quer para carregamento, contando a rede pública com cerca de 3700 postos para o efeito19; e benefícios fiscais, tais como a isenção do Imposto sobre Veículos (ISV), a isenção do Imposto Único de Circulação (IUC) ou dedução do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) para as empresas, entre outras.
No ano passado, durante o apagão no Novo México nos Estados Unidos, foi notícia um utilizador que conectou um inversor à bateria do seu Chevy Bolt para alimentar os aparelhos elétricos na sua residência durante um dia e meio20, demonstrando que os VEs podem atuar como fonte de reserva. Embora a adoção de painéis solares e baterias residenciais já esteja em curso, o uso de VEs poderia tornar essa configuração mais acessível para um público mais amplo, à medida que os custos dos VEs diminuem.
↵
oinstalador.novaagora.com
O Instalador - Informação profissional do setor das instalações em Portugal