64 RENOVÁVEIS | HIDROGÉNIO A importância do hidrogénio verde na transição energética em ilhas As metas do Acordo de Paris de 2015 encerram um conjunto de desafios que a sociedade civil tem de assumir, por forma a assegurar a mitigação das alterações climáticas, até meados do século XXI, pela redução das emissões antropogénicas, resultantes do nosso estilo de vida e do desenvolvimento tecnológico verificado desde finais do século XIX. Andreia Carreiro, Bruno Henrique Santos e Francisco Carlos Future Energy Leaders Portugal/Associação Portuguesa da Energia A necessidade de descarbonização do setor da energia, um dos principais responsáveis pelas emissões com gases de efeito de estufa (GEE), tem sido amplamente abordada, nomeadamente, pela introdução incremental de tecnologias de gestão e de produção de origem renovável, com recurso ao sol, ao vento e à água, assegurando a substituição das fontes energéticas de origem fóssil, como o carvão, o fuelóleo, o gasóleo, o gás natural ou outro tipo de hidrocarbonetos. Note-se que o setor da energia não se limita à energia elétrica, sendo necessária uma análise holística do panorama do uso da energia em Portugal, onde a eletricidade representa apenas cerca de 25% da energia final, e em que o paradigma de uso de vetores energéticos na indústria, mobilidade e serviços assenta ainda no recurso maioritário a fontes de origem não renovável e, naturalmente, com necessidade de descarbonização. A eletrificação integral, apesar de desejada, ainda não é uma solução competitiva e custo-eficaz para o ambiente produtivo de algumas indústrias de consumo intensivo, bem como para o transporte rodoviário pesado, aéreo ou marítimo, áreas fundamentais que carecem de descarbonização para o cumprimento integral dasmetas de neutralidade carbónica. Em áreas insulares, os desafios da descarbonização são mais complexos, face à ultraperiferia, disponibilidade de recursos endógenos, ausência de interligação física e reduzidas economias de escala, exacerbando a necessidade de explorar uma diversidade de fontes energéticas de origem renovável e de assegurar requisitos de segurança de abastecimento e resiliência. No caso português, a predominância nas ilhas de regimes eólicos favoráveis, associados à exposição solar, permitem a capitalização de fontes endógenas que, aliadas a outras tecnologias, quer de estabilização da rede, como o recurso a sistemas de armazenamento, quer através da exploração de outras fontes de origem renovável, como a geotermia ou a hídrica, impulsionam as trajetórias de neutralidade carbónica. Neste contexto, o hidrogénio de origem renovável (vulgarmente conhecido como hidrogénio verde) produzido através de eletricidade obtida a partir de fontes renováveis, usufruindo dos excedentes de produção que já hoje ocorrem, essencialmente, em períodos noturnos, com elevada produção eólica e baixo consumo, ou com recurso a produção dedicada para o efeito, poderá constituir-se como um vetor energético estratégico para a transição energética nas ilhas, potenciando o armazenamento químico sazonal de energia sob a forma de hidrogénio, ou pela a sua utilização na descarbonização da indústria ou de outros grandes consumidores onde a eletrificação não será, ainda, competitiva. De forma complementar, e seguindo exemplo de outras ilhas, como a Islândia, os Açores, que usufruem de potencial geotérmico, poderão aproveitar o CO2 de origem geotérmica, libertado no processo de geração de vapor, em combinação como hidrogénio verde, para viabilizar a produção de combustíveis sintéticos, comometanol ou Sustainable Aviation Fuels (SAF), cuja
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