58 RENOVÁVEIS | HIDROGÉNIO segurança do abastecimento”, afirma a APREN, acrescentando que a invasão da Ucrânia pela Rússia veio evidenciar a fragilidade da Europa face à dependência de matérias-primas essenciais ao mercado atual, e a necessidade na aposta em recursos endógenos e no fortalecimento da indústria europeia. E é precisamente (também) por isso que devemos usar a tecnologia do hidrogénio verde. Porque, “neste momento, temos o know-how e capacidade de produção necessária, pelo que é essencial aproveitar e expandir este potencial”. O hidrogénio verde é peça chave para a segurança do abastecimento, não só a nível europeu, mas tambémnacional, para reduzir a dependência externa e, consequentemente, a exposição à volatilidade dos preços dos combustíveis fósseis, que trazem incerteza e risco para o país. Por outro lado, num sistema elétrico com elevada incorporação renovável, o hidrogénio irá criar resiliência para uma gestão mais otimizada dos recursos renováveis através da introdução de maior flexibilidade ao sistema. A APREN acrescenta, de forma explicativa, que a eletrólise passa por um processo químico, que permite a separação do hidrogénio da água. Neste sentido, é necessário ter em conta que, como em tantos outros setores, será preciso fazer uma gestão sustentável da utilização de água. Neste ponto, existem diversas formas de salvaguarda do uso de água, nomeadamente através do recurso a águas residuais tratadas e à dessalinização. Já Maria Santos prefere mencionar o facto de o seu processo de produção (eletrólise) ser totalmente limpo, sem emissões, dado que o hidrogénio (verde) é produzido exclusivamente a partir de fontes de energia renovável. O que leva a ambientalista a afirmar que, numa ótima de descarbonização e da neutralidade carbónica, o hidrogénio verde tem um potencial muito elevado, sobretudo “para descarbonizar setores onde a eletrificação ou não é possível, ou é muito difícil”. É o caso, por exemplo, da indústria do cimento, a cerâmica ou mesmo o aço. Já no caso dos metais raros, aponta a APREN, usados como catalisadores no processo, a preocupação assenta na disponibilidade destes recursos e na sua exploração. No entanto, têm existido evoluções na redução das quantidades necessárias por mg/w e também investigação e desenvolvimento no uso de outros metais que possam substituir a sua utilização. Quanto a desvantagens Maria Santos refere que “se não projetarmos toda esta economia do hidrogénio – produção, transporte, distribuição e armazenamento – e integrando os princípios de sustentabilidade, podemos não só ter consequências no que diz respeito ao ambiente, mas também a nível económico”. Um exemplo? O “estarmos a incorrer em investimentos ociosos e que atrasam a descarbonização da economia e transição energética”. As baterias são um bom exemplo. Como lembra a ambientalista da Zero a sua produção implica a extração e utilização do lítio. Acontece que “no hidrogénio verde tambémpoderemos vir a ter o problema das chamadas matérias-primas críticas”. Maria Santos questiona se teremos matérias-primas suficientes para dar conta da procura. Veja-se a questão da água. Para se produzir um quilo de hidrogénio são precisos cerca de 9 litros de água. Acontece que, convém não esquecer, Portugal sofre, sucessivamente, de períodos de seca extrema. Por fim, acrescenta Maria Santos, a principal consequência, e que não é tão clara, é a forma como a procura de hidrogénio poderá condicionar a transição energética e eletrificação de setores prioritários, como por exemplo, o setor residencial. “A eletricidade de energia renovável já é um recurso escasso para atender aquilo que são as necessidades numa ótica de uma economia eletrificada e descarbonizada”, aponta Maria Santos, acrescentando que, neste momento, não temos a capacidade de produção renovável instalada suficiente para dar conta desse procura, pelo que “estarmos a acrescentar mais um ponto de procura poderá desviar essa eletricidade para a produção de hidrogénio”. Para que isso não aconteça a Zero defende que para cada novo projeto de produção de hidrogénio verde o mesmo deve ser acompanhado de capacidade adicional de produção de energias renováveis. n
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