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OPINIÃO 48 muitas cidades e locais de interesse turístico têm assumido a política de aceitar só “um número limitado de visitantes” por dia. Na Tailândia ou nas Filipinas, por exemplo, ilhas e pedaços de costa foram fechados por meses e até anos, para garantir a sua reconstituição e dos recifes de corais, bem como regenerar as áreas sensíveis e os ecossistemas. Por outro lado, Barcelona ou a ilha Grega de Santorini também já estão a restringir o acesso. Mas não acaba por aqui. Amesterdão e Veneza equacionam rever o modelo turístico, promovendo outros destinos dos seus países, assim como a aplicação de taxas diárias, para reduzir o overturimo. Esta mudança e reviravolta de paradigma no setor do turismo vem com um forte sentimento ecológico, que cada vez se sente mais e que é cada vez mais forte nestas regiões. Este é omomento para analisar os efeitos do overturismo e repensar novas formas de contorná-lo no futuro a curto e médio prazo, fator que é incompatível com ummodelo da construção de um projeto de raiz, destruindo todas as edificações, infraestruturas e redes de mobilidade existentes. A sustentabilidade deste setor é um caminho incontornável. Aqui o objetivo da sustentabilidade tem sido já assumido por muitos agentes turísticos, devido às preocupações e exigências dos próprios turistas, assim como através da lei da oferta e da procura, considerando a integração da responsabilidade ambiental e social nos seus espaços e serviços, tendo em conta quer as necessidades dos visitantes, quer os benefícios das comunidades locais com a minimização dos impactes ambientais, económicos e sociais no presente e no futuro. Mas apesar da palavra de ordem ser a “mudança” continuamos a assistir a anúncios da construção de uma mega infraestrutura de raiz, com os argumentos ambientais e da necessidade de melhorar a segurança da população, sabendo que esta nova infraestrutura aeroportuária nunca será uma solução sustentável e que os riscos e os impactes serão apenas transferidos para outra localização, provavelmente mais vulnerável que as atualmente existentes, onde as construções de forma alguma estão ajustadas à coexistência com a proximidade com um aeroporto desta dimensão. Não pode continuar a ser a justificação para avançar para uma obra desta dimensão, centralizada na região de Lisboa, num país pequeno., nem irá promover formas de mobilidade sustentável. É preciso olhar para o país como um todo, respeitar a sua dimensão e os seus recursos, reabilitar e reativar infraestruturas já existentes, restruturar voos e ajustar algumas rotas, retirar voos militares e privados da capital, assim como as low cost ou os charters desviando-os para outros aeroportos de apoio fora de Lisboa, à semelhança da maioria dos países europeus (existem diversos a menos de 1hora de Lisboa). O futuro do aeroporto internacional de Lisboa deverá passar, inevitavelmente, pela definição de uma política sustentável de turismo e mobilidade, emque o equilíbrio com a ferrovia seja central. Há mais do que evidências de que esta obra não deverá fazer parte das nossas prioridades. Após dois anos a enfrentar uma pandemia, a Europa vê-se a braços com uma guerra, em que o final de qualquer uma destas situações parece estar num horizonte longínquo, mas com efeitos imediatos. Esta combinação “pandemia” e “conflito armado”, tem tido uma consequência direta naquilo que são os três pilares da sustentabilidade: Economia, Social e Ambiente. Se vivemos momentos muito difíceis do ponto de vista financeiro, com o aumento dos preços dos bens e recursos, com a escassez do fornecimento das matérias-primas e com o aumento da inflação, é certamente a vertente social a mais afetada. As dificuldades financeiras e humanitárias que atualmente vivemos irão perpetuar-se no tempo comos diversos constrangimentos na vida da população, que mesmo com um grande esforço e com apoio social, poderão não conseguir ser minimizados ou ultrapassados. Não tenhamos dúvidas, Portugal esconde atualmente uma situação de luta pela sobrevivência financeira, por garantir o mínimo das condições que satisfaça o bem-estar social, a promoção e proteção da saúde, assim como o fornecimento dos bens elementares à população. O empenho é necessário para a mudança, quer em termos da urgência nas estratégias, quer na concretização de Políticas Ambientais oumetas estabelecidas, que muitas vezes poderá ser dificultado pelos constrangimentos mundiais. Em 50 anos muita coisa mudou, o Planeta não é o mesmo, mas a vontade de mudança política e ajuste às necessidades atuais talvez, ainda não tenha percebido esta necessidade de mudança. n * Especialista na área dos Resíduos e Ambiente Doutoranda em Engenharia do Ambiente no IST Fundadora e Coordenadora do SOS AMIANTO Autora do livro 'Não Há Planeta B: Dicas e Truques para umAmbiente Sustentável' Conselheira do CES - Conselho Económico e Social, pela CPADA, em representação das Associações Nacionais de Defesa do Ambiente

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